segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Flavia e a justiça (?) brasileira

Textos extraídos e adaptados a partir do blog
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criado em Janeiro de 2007 por Odele Sousa.

O blog narra a história de uma criança e sua luta pela vida desde que teve seus cabelos sugados pelo sistema de sucção da piscina do prédio onde moravam, em Moema (SP), em 06.01.1998.

Flavia, filha de Odele Souza, irmã de Fernando, completou ontem, 16/12/2007, 20 anos, dez deles em coma vigil sobre uma cama.

Mais que o relato dos fatos desde o acidente, é um alerta sobre o perigo existente em ralos de piscinas e um protesto contra a lentidão
da justiça brasileira.

O acidente com Flavia já havia acontecido e ainda acontece com outras crianças; no Brasil, em Portugal, nos Estados Unidos, na França, na Rússia...
E os responsáveis continuam impunes.

Na montagem abaixo, cujas fotos foram extraídas do blog Flavia, Vivendo em Coma..., aparecem Flavia (aos 16 anos), o irmão Fernando e a mãe, Odele; e Flavia aos 9 anos.

Após o acidente, o sorriso de Flavia aconteceu uma única vez em quase 10 anos. No dia em que ela completou 16 anos. Odele estava por perto, e clicou o momento raro e mágico.


ACORDE....

Flavia, acorde Princesa,
O ano 2000 já chegou, e você nem notou,
Ausente que está nesse sono tão longo...
Já faz hoje dois anos...acorde, vem cá...
Sinto falta de ouvir pela casa seus passos,
E me angustia não mais receber seus abraços.
Vem filha, me explicar o que eu não entendo,
- POR QUE COM VOCÊ?!
Nessa sua viagem de sonho, você já deve ter
Se encontrado com Deus e com os anjos.
Eles já lhe disseram filha, POR QUE??
Por favor acorde e me diga, eu preciso entender...
Disseram querida, que sofrendo eu vou aprender,
Mas como posso aprender a ficar sem você?!
Como pode Princesa, alguém aprender pela dor?
Até onde sei, o AMOR é que deveria ensinar...
Eu te amo filha, por favor, use este amor
Para achar seu caminho de volta.
Siga meu amor como uma luz
Para você aprender a voltar
E eu estarei aqui filha, todos os dias
A te esperar, a te esperar, a te esperar...

Texto de Odele Souza, mãe de Flavia.
06 de janeiro de 2000.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Usina de Natal

Foto: Cristine Rochol (PMPA)

A árvore de Natal montada na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, foi inaugurada na noite de ontem, 11 de dezembro.

A árvore, com altura de 40 m (equivalente a um prédio de 12 andares), foi iluminada com 2 milhôes de pontos de luz com efeitos controlados a partir de seu interior.

Participaram da festa, que incluiu uma queima de fogos de mais de 4 minutos e espetáculo musical, cerca de 11.000 pessoas.

A iluminação da árvore será acesa todos os dias, às 21h.

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Parece haver uma competição de
árvores de Natal pelo Brasil.

Cada qual com sua marca registrada,
em tamanho, iluminação ou forma.
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Uma saudável competição.
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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Projeto Papai Noel dos Correios


O Projeto Papai Noel dos Correios é uma ação corporativa, desenvolvida em todas as 28 diretorias regionais, cujo objetivo central é manter a magia do Natal. Não possui caráter político, religioso, partidário ou comercial.


Visite o site do Papai Noel dos Correios. Procure os correios da sua cidade.
Fones de contato no RS: (51) 3220-8917/8918/8468


sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ciências que pariu!


BRASIL, mostra a tua cara
(mostra a tua bunda)

Habilidades em Leitura - 32º lugar em 32 países (2000)
Matemática - 41º lugar em 41 países (2003)
Ciências - 52º lugar em 57 países (2006)


Segundo o presidente do Instituto de Avaliação do MEC, Reynaldo Fernandes, a posição "não é boa" (sic), mas era esperada, já que os demais países são na maioria desenvolvidos. Piada!

Segundo Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, "a imensa maioria das escolas públicas de ensino fundamental não tem ensino de Ciências". Piada!

Deveria ter dito que a maioria das escolas não tem. Ponto final. Públicas ou privadas.

Dos docentes de física, apenas 9% tem formação específica na rede pública; de química, apenas 13%. Na rede privada o assunto é privado.

E quando tem, as aulas são na absoluta maioria das vezes teóricas. Um desestímulo aos alunos e aos próprios professores, em parte responsáveis por julgar que experimentar, mesmo no ensino fundamental ou médio, significa dispor de equipamentos sofisticados; o primeiro mundo é pródigo em exemplos de ensino prático com materiais simples, para não dizer simplórios. Prá não dizer práticos!

Convidado para muitas mini-aulas para o ensino médio resta a sensação de progressivo pessimismo. Com alunos e professores, em especial da rede pública. Coitados; abandonados; não treinados; não atualizados. Muitos deveriam estar nos bancos para os quais se apresentam.

O conhecimento é um bem cumulativo. O interesse nasce na infância. Pela curiosidade estimulada; pela experimentação; pela conclusão baseada na observação. Pelo exemplo. Em Leitura, Matemática ou Ciências! Mas também em políticas.

A adesão ao Programa de avaliação (PISA - Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é livre, e China, Índia e a maioria dos países africanos não participaram. Que sorte! Estive na China, e eles ganhariam de nós. Nâo estive na Índia, mas eles provavelmente também ganhariam de nós. Acho que ganharíamos da África. Pobre África! Pobre de nós!


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Ancestralidade

Memorial dos Lanceiros Negros

Um marco, um poema, em meio ao campo.
No sul do RS, no Cerro dos Porongos,
a lembrança de tempos idos.
De homens idos.

Ancestralidade
Birágo Diop, poeta africano

Ouça no vento
o soluço do arbusto,
é o sopro dos antepassados.
Nossos mortos não partiram.
Estão na densa sombra.
Os mortos não estão sob a terra.
Estão na árvore que se agita,
na madeira que geme,
estão na água que flui,
na água que dorme,
estão na cabana, na multidão;
os mortos não morreram...

Nossos mortos não partiram,
estão no ventre da mulher,
no vagido do bebê e
no tronco que queima.
Os mortos não estão sob a terra,
estão no fogo que se apaga,
nas plantas que choram,
na rocha que geme,
estão na floresta,
estão na casa;
nossos mortos não morreram.



Homenagem ao 14 de novembro de 1844.

Na batalha de Porongos o chão ficou juncado com centenas de mortos farroupilhas da Tropa dos Lanceiros Negros.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Políticos – problema genético ou comportamental?

Hipocrisia na origem grega designava o desempenho teatral, a declamação do ator, que simulava ser outro no palco. O português, porém, tomou a palavra do baixo latim hypocrisis, de sentido mais restrito, e hipocrisia e hipócrita consolidaram-se com o sentido de aparentar o que não é, de ser falso, fingido, mentiroso. É o ato de fingir ter crenças, virtudes e sentimentos que a pessoa na verdade não possui.

Já o esquecimento de caráter deliberado consiste em "desligar partes do cérebro que são responsáveis por sustentar as memórias". Conforme pesquisas desenvolvidas na Universidade do Colorado (EUA), entre as partes desativadas está o centro emocional do cérebro.

Começo a acreditar que essas duas anomalias comportamentais tenham um caráter genético recessivo e, ainda que não exclusivas, atinjam fortemente a classe política.

Ainda que não seja incomum um indivíduo ter genes recessivos anormais, estes só provocam alguma anormalidade se dois iguais se encontram. As chances de que isso aconteça são escassas na população em geral; não obstante, aumentam muito nos grupos fechados que se casam entre si.

É o que acontece com a classe política, sabidamente dada aos entrecruzamentos visando à preservação de uma espécie que, sob condições naturais, estaria fadada à extinção.

Um traço escasso passa então a dominante. E o dominante a escasso.

E admira que os antônimos de hipocrisia e esquecimento, que aludem à verdade, à sinceridade, à lealdade e à lembrança passem a ser as características raras. Mais que isto, que sejam admiradas pela raridade.

Só em tragédias gregas ou numa república de hipócritas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Uma Oposição de Carneiros e Ovelhas


Inspirado no texto "Ligações Perigosas" de Percival Puggina publicado no Jornal Zero Hora (16/09/2007), disponível aqui e que em seu parágrafo final diz:

"Desigualdades sociais são decorrências inevitáveis das inúmeras diferenças naturais existentes entre os seres humanos, mas a dignidade que todos temos em comum torna inaceitável essa ligação perigosa da miséria absoluta com a absoluta opulência. Ela nasce da perigosa ligação da burrice com o problema, do poder com a incompetência, do refluxo dos que se omitem com a maré dos demagogos. E, principalmente, das perigosíssimas e promíscuas ligações que o presidencialismo estabelece entre Estado, governo e administração. Elas alcançam o apogeu quando controladas por pessoas com discurso de Dom Quixote, discernimento de Rocinante e ambições de Alifanfarrão."

Para lembrar:

- Señor, encomiendo al diablo hombre, ni gigante, ni caballero de cuantos vuestra merced dice parece por todo esto; a lo menos yo no los veo; quizá todo debe ser encantamento, como las fantasmas de anoche.
- ¿Cómo dices eso? – respondió don Quijote
- ¿No oyes el relinchar de los caballos, el tocar de los clarines, el ruido de los atambores?
- No oigo otra cosa – respondió Sancho – sino muchos balidos de ovejas y carneros

Para pensar:

Dom Quixote vê o encontro entre o exército do Imperador Alifanfarrão e o do seu inimigo de Pentapolim do Arremango Braço enquanto Sancho Pança adverte ouvir “balidos de carneiros e ovelhas”.

O Valente Cavaleiro atribui ao medo do escudeiro sua cegueira. Um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são.

Quais dos pontos de vista são críveis? Os dois.

O espírito aventureiro do Cavaleiro lhe permite ver dois exércitos. O do medroso Escudeiro permite enxergar apenas animais (ou alimento).

Curioso que Dom Quixote dê uma explicação bastante convincente sobre os efeitos do medo. Melhor acreditar não ver o que está a frente. Ou imaginar coisa outra do que aquela que se avizinha.


Um artifício inconsciente a favor da nossa sobrevivência. Se não reconheço o perigo não é necessário enfrentá-lo; e diminuem as chances de ser por ele derrotado.

É o que faz a pseudo-oposição brasileira. Não vê exércitos, mas também não vê animais, e tanto uns quanto outros estão lá. Em alguns instantes faz os discursos acalorados de Dom Quixote, mas não tem coragem de enfrentar nem mesmo moinhos de vento. Em outros instantes assume o silêncio constrangido de Sancho.

Talvez a nuvem de pó no campo de batalha os tenha deixado cegos.
Ou pensam que nós estamos e não possamos ver que o enfrentamento verdadeiro não existe.